Educando Musicalmente

Educando Musicalmente

segunda-feira, 30 de maio de 2011

A ATUAÇÃO DO PROFESSOR ESPECIALISTA EM MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

RESUMO:

A Música é defendida como área de conhecimento. Considera-se que ela possui uma linguagem particular com um sistema de símbolos próprios e precisa ser trabalhada nas escolas levando-se em conta seus conteúdos e procedimentos específicos, quando ministrada por professores especialistas em Música. Podendo ser trabalhadas, por exemplo, exercícios musicais para desenvolvimento da pulsação, parâmetros do som, exercícios rítmicos, canto, parlendas, brincadeiras cantadas, execução de instrumentos musicais, jogos cantados, composição ou criação de músicas, sonorização de histórias, visitação à espetáculos musicais, apreciação, entre outros. Sabe-se que quando ministrada por professores unidocentes também defende que a música pode ser trabalhada nessa perspectiva, desde que o professor tenha formação musical mínima para desenvolver o trabalho nesta concepção.

Palavras Chaves: Professor Unidocente; Aprendizagem; Professor Especialista em Música.

1 INTRODUÇÃO
O fato da Educação Infantil ter sido considerada como primeira etapa da Educação Básica a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB nº 9.394/96 de 1996 e haver reafirmado a Constituição Federal de 1988 trouxe significativos avanços para a educação brasileira, principalmente quanto ao aparato legal.
Dentre estes produtos normativos e orientadores de uma política para a Educação Infantil, foi criado o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCNEI – em três volumes, em 1998.
No RCNEI, volume 3 – Conhecimento de mundo – apresenta a música como uma das linguagens a ser trabalhada como “excelente meio para o desenvolvimento da expressão, do equilíbrio, da auto-estima e autoconhecimento, além de poderoso meio de integração social”. Segundo o RCNEI, o ensino de música aparece como proposta específica a ser ministrada por professoras unidocentes (professores que atuam na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental).
De acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), a Música está presente no âmbito do “Conhecimento de Mundo” e este “se refere à construção das diferentes linguagens pelas crianças e às relações que estabelecem com os objetos de conhecimento e traz uma ênfase na relação com alguns aspectos da cultura” (RCNEI, 1998, p.46). 

2 A MÚSICA NO CENÁRIO DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Alguns fatos históricos da Educação Infantil no cenário educacional brasileiro, de modo a compreender as políticas públicas para este nível de ensino no período pós-LDBEN de 1996, busca apreender o modo como a Música está representada nos documentos oficiais e escolares concernentes à Educação Infantil e refletir sobre as propostas curriculares para o ensino de música neste contexto.

2.1 EDUCAÇÃO INFANTIL E MÚSICA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES HISTÓRICAS
Os antecedentes históricos da Educação Infantil no Brasil através dos dispositivos legais tendo como o direito à educação para crianças pequenas são recentes e escassos. E somente a partir de 1899, que se tem uma participação efetiva do poder público no atendimento às crianças de zero a seis anos com a criação, nesta mesma data, do Instituto de Proteção e Assistência à Infância no Brasil (KRAMER, 2003) e mais tarde, por meio da legislação: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN nº 4.024 de 1961; LDBEN nº 5.692 de 1971 e a atual LDBEN nº. 9.394 de 1996.
Na evolução das políticas públicas relacionadas à educação infantil no Brasil, basicamente a partir da LDBEN nº. 4.024, de 1961, observa que, apesar dos dispositivos legais emanados destas políticas reconhecerem o direito à educação das crianças de 0 a 6 anos, o acesso não é irrestrito, de forma que a condição social de grande parte destas crianças continua precária.
Esta lei trazia resoluções abrangentes e sem disposições para colocá-las em prática. E a LDBEN nº 5.692, de 1971, não contribuiu de forma significativa para aumentar o atendimento à primeira infância, em razão da amplitude e da ambivalência de seus dizeres, tal como a LDBEN de 1961, e somente a partir da LDBEN nº. 9.394 de 1996, que os dispositivos legais vêm contribuir de maneira mais efetiva no atendimento da educação infantil.
Segundo Carrijo (2005), foi a partir dos anos 80 do século XX, que a Educação Infantil no Brasil ganhou força, tornando-se uma realidade irreversível. No decorrer de sua trajetória, constatou-se inúmeras modificações das funções das creches e pré-escolas. Elas variam dependendo do caráter assumido pela Educação Infantil sendo: medida paliativa de compensação, assistencialismo, filantropia e instituição educativa.
Desse modo, desencadeou-se um amplo movimento em defesa dos direitos das crianças articulado pela sociedade civil e por órgãos governamentais, para que o atendimento educacional às crianças de 0 a 6 anos de idade fosse reconhecido oficialmente. Esse processo resultou no reconhecimento da Educação Infantil como um direito. A partir da nova concepção da criança, ela foi reconhecida como cidadã, portadora de direitos e educação, não só de proteção como era.
Foi promulgada em 1990, a Lei nº 8.069 que sanciona o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (BRASIL, 1990) assegurando o direito da criança de zero a seis anos de idade ao atendimento em creches e pré-escolas.
O direito da criança à educação assegurada pela Constituição Federal de 1988 e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente ECA/1990 é também reafirmado pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei nº 9.394 de 1996, que estabelece de forma incisiva o vínculo entre o atendimento às crianças de zero a seis anos e a educação.
A Educação Infantil, tal como consta na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDBEN nº 9.394/96, constituiu-se como

“primeira etapa da educação básica e tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de 0 a 6 anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade” (título V, capítulo II, seção II, artigo 29).

Com a promulgação dessa Lei, a Educação Infantil passou então a ser oferecida em creches ou entidades equivalentes para crianças até 3 anos de idade, pré-escolas para crianças de 4 a 6 anos de idade. Assim, essa divisão só foi alterada em maio de 2005, a partir de sanção presidencial com a Lei Federal nº 11.114, que define que as crianças com 6 anos completos devem ser matriculados no 1º ano do Ensino Fundamental. Dessa forma, a partir de 2005, no Brasil, a Educação Infantil passou a atender crianças até 5 anos de idade.
Foi na última década do século XX que a idéia de assistencialismo nas creches deu lugar a uma nova concepção sobre essas instituições reconhecidas como espaço educativo.
A partir da Carta Constitucional elaborada em 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394 de 1996 tem um momento de reorganização institucional e legal referente à educação. Estes acontecimentos foram extremamente importantes para a introdução de reformas em vários campos educacionais.
Portanto, de acordo com a atual LDBEN nº. 9.394/96 contempla-se também o ensino de Arte. Esta Lei traz no seu Art. 26, § 2º, que o ensino de arte constituir-se-á “componente curricular obrigatório, nos diversos níveis de educação básica de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”.
Nesse sentido, como a Educação Infantil está contemplada na educação básica, no Ensino de Arte, e conseqüentemente na Música, como uma das modalidades desse ensino, também se configura como uma das linguagens que podem ser abordadas no contexto da Educação Infantil.

2.2 A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL EM DOCUMENTOS OFICIAIS E ESCOLARES

O ensino das Artes, especialmente da Música, está contemplado nos documentos oficiais e mais especificamente na atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN n.º 9.394/96.
Na antiga lei n.º 5.692 de 1971, o ensino de Artes, ainda denominado Educação Artística pregava uma formação polivalente dos profissionais, sendo que os professores de Educação Artística deveriam abordar conteúdos de todas as linguagens artísticas (Música, Artes Plásticas, Teatro e Dança). Porém, esses profissionais, que por força de lei, tiveram formação polivalente, tiveram uma formação comprometida e insuficiente para consolidar o ensino de música nas escolas públicas. Isso porque não se aprofundavam em questões específicas de todas as linguagens artísticas.
No que se refere ao ensino de Arte, a atual LDBEN traz no seu Art. 26, § 2º, que o ensino de arte constituir-se-á “componente obrigatório, nos diversos níveis de educação básica de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”. Assim, complementando o processo de implantação da LDBEN em 1996, foi publicado em 1998 pelo Ministério da Educação (MEC) o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCNEI.
A concepção adotada no RCNEI compreende a música como linguagem e área de conhecimento e considera que esta tem estrutura e características próprias devendo ser considerada como: produção, apreciação e reflexão. (BRASIL, 1998).
Segundo o RCNEI, a produção está centrada na experimentação e na imitação, tendo como produtos musicais a interpretação, a improvisação e a composição. A apreciação abrange a percepção tanto dos sons e silêncios quanto das estruturas e organizações musicais, buscando desenvolver, por meio do prazer da escuta, a capacidade de observação, análise e reconhecimento. Finalmente, a reflexão trata de questões referentes à organização, à criação, aos produtos e aos produtores musicais (BRASIL, 1998).
O documento traz orientações referentes aos conteúdos musicais. Estes se encontram organizados em dois blocos: “o fazer musical” - compreendido pela improvisação, composição e interpretação - e “apreciação musical”, ambos abarcando também questões referentes à reflexão. (BRASIL, 1998).
Vale ressaltar que, apesar desse documento de orientação pedagógica para a Educação Infantil, de caráter não obrigatório, trazer uma proposta detalhada para a música, ainda assim, é uma proposta curricular muito distante da realidade, devido a formação dos professores desse nível de ensino, a falta de recursos e materiais mínimos para o ensino de música.
Essa ausência da Arte se reflete, igualmente, não apenas no modelo de educação musical que poderá ser adotado nas escolas de Educação Infantil, mas, antes de tudo, no valor da música e da educação musical nesse contexto, tal como mostra Fonterrada (2005): 

“É sintomático que, em grande parte das escolas, a disciplina artes (ou educação artística, terminologia ainda vigente) não seja valorizada do mesmo modo que as outras; via de regra, o professor de artes é considerado o festeiro da escola, aquele que ajuda os alunos a passarem seu tempo enquanto se recuperam dos esforços empreendidos com as disciplinas consideradas “importantes”. Ele é um professor que tem de abrir seu espaço na comunidade escolar a cotoveladas, pois seu trabalho não é reconhecido como de igual valor ao de seus colegas de outras áreas do conhecimento. A maneira como é encarada a disciplina na escola brasileira atual é reflexo de uma “visão de mundo” que valoriza o saber e as técnicas, e vê a arte como entretenimento ou passatempo”. (FONTERRADA, 2005, p.212-213).

Há também outro avanço significativo com relação à Educação Infantil a partir da Resolução da Câmara de Educação Básica nº 1 de 07 de abril de 1999, que instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. Essas diretrizes, de caráter mandatório, estabelecem novas exigências para as instituições que se dedicam ao atendimento de crianças na faixa etária da Educação Infantil, particularmente quanto às orientações curriculares e processos de elaboração de seus projetos pedagógicos e organização das instituições de ensino.
Nesse sentido, a escola deverá construir sua proposta pedagógica orientada pelos documentos oficiais tais como o RCNEI e as Diretrizes Curriculares Nacionais de modo que a prática pedagógica seja fruto de reflexões construídas com base nesses documentos orientadores e na realidade em questão. Portanto, dentre os produtos normativos e orientadores de uma política para a Educação Infantil, o RCNEI é o documento que traz orientações pertinentes ao ensino de música como uma das linguagens a ser trabalhada na Educação Infantil.
Além dos documentos oficiais do MEC e do Estado, existem as propostas municipais e escolares que orientam as práticas pedagógicas dos professores. São eles: as diretrizes Curriculares do Município; o Projeto Político Pedagógico (PPP) das escolas e o Planejamento Anual da Educação Infantil da escola.
A Música pode ser incluída no currículo como uma das linguagens necessárias na educação da criança pequena e esse trabalho pode ser feito de forma interdisciplinar.

3 A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: OUTRAS REFLEXÕES

Em nosso cotidiano, independentemente da cultura, todas as pessoas experienciam a música de algum modo e, nesse sentido, pode afirmar que esta é uma experiência universal, ou seja, é uma linguagem culturalmente construída e diversamente experimentada de acordo com variadas funções que desempenha na vida das sociedades.
É fundamental para o desenvolvimento das crianças serem trabalhadas de distintos modos no contexto escolar. Sendo assim, até o momento, é uma visão e uma prática utilitaristas da música na escola de Educação Infantil, o que se distancia da concepção de Música como conhecimento que possui conteúdos próprios e metodologias particulares.
Assim, pensar nas funções que o ensino de Música poderá assumir na escola considera no cotidiano escolar, as práticas culturais de professores e alunos, mas também outros variados propósitos pelos quais ela poderá aparecer, de acordo com o contexto e as situações particulares e suas próprias possibilidades como linguagem artística.
Também é pertinente como a Música aparece nos saberes e práticas de professores em contextos escolares, especificamente na Educação Infantil. Para tanto, faz-se necessário refletir a respeito de outras possibilidades da música no currículo da Educação Infantil.
São na prática pedagógica desenvolvida no cotidiano da Educação Infantil, a partir das experiências de vida, experiências musicais dos professores e de seus alunos que devemos pensar a construção do trabalho pedagógico. A organização curricular deve emergir das práticas pedagógicas dos professores e alunos envolvidos no cotidiano escolar procurando, sempre que possível, voltar para as necessidades específicas do contexto.
Tratar da importância e da viabilidade da Música na escola, enquanto área de conhecimento e fornecer ferramentas para a reflexão a respeito da prática artística na Educação Infantil é oferecer subsídios para o fortalecimento da música nesta modalidade de ensino.

4 SOBRE PRÁTICAS MUSICAIS NA ESCOLA

Por considerar o ambiente escolar da Educação Infantil um lugar e tempo propícios para o desenvolvimento integral da criança acreditam ser também esse um lugar importante para o desenvolvimento de atividades artísticas, principalmente a música, pois esta é uma das modalidades de expressão humana e uma das linguagens artísticas capaz de promover, por meio de experiências sonoras, o desenvolvimento afetivo, estético, social, físico e cognitivo do ser humano. (BRASIL, 1998).
A Música na Educação Infantil acontece de várias maneiras e com diferentes objetivos, quase sempre além do necessário para que seja trabalhada em todas as suas possibilidades como área de conhecimento e linguagem artística específica. Ela é confirmada no cotidiano escolar em diversas atividades como a recreação, as festividades ou comemorações, na formação de hábitos e também como pano de fundo e recurso didático para diferentes fazeres da Educação Infantil.
Sendo assim, o que constata na escola é a existência de uma visão e uma prática utilitarista, imediatista da música na escola, distanciando da concepção de Música como conhecimento.
Contrapondo a essa visão pragmática, utilitarista e imediatista da música na escola, defende-se que ela poderá ser muito mais que isso; poderá propiciar ao aluno uma aprendizagem musical significativa de seus conteúdos próprios, se for permitido um trabalho colaborativo entre professores especialistas e professores unidocentes e se a Música for trabalhada como área de conhecimento, o que requer que o professor regente possua formação musical.
O trabalho com Música na Educação Infantil poderia ser diferente do que, em geral, vem sendo realizado; isso pode acontecer quando considera a Música como uma área de conhecimento, trazendo assim, maiores benefícios para as crianças que teriam a oportunidade de vivenciar essa experiência de uma maneira mais completa (ampla).
Outro benefício é aproximar crianças de diferentes mundos musicais, propiciando, assim, um contato direto com a música através da audição e também de outras diferentes maneiras: executando, apreciando e compondo, de modo a contribuir para uma formação artístico-musical dos sujeitos.
Portanto, para que a Música seja entendida e trabalhada como área de conhecimento e para que possa ser vivenciada na Educação Infantil de maneira integrada aos outros conteúdos, precisa de uma resposta fundamental para tal desafio, envolvendo preparação e qualificação dos profissionais que atuam na Educação Infantil, no caso os professores unidocentes, por meio de um processo de formação inicial e continuada e também produzir no cotidiano da escola um trabalho integrado de professores especialistas em música com os unidocentes.
Percebe que na Educação Infantil, de modo geral, há uma ausência da música como conhecimento específico. Geralmente na escola, a música se faz presente em diversas atividades escolares como recreação, lazer ou mesmo como recurso pedagógico para o ensino de outros conhecimentos.
Existe uma forte concepção de escolarização na Educação Infantil e que os professores utilizam as diferentes linguagens (Movimento, Matemática, Linguagem oral e escrita, Artes visuais, Música, Natureza e sociedade) como auxílio no processo de alfabetização e escolarização das crianças. Por isso acredita também que a Música deve fazer parte da formação das professoras que atuam nesse nível da educação.
No sentido de caracterizar a relação entre Música e Educação Infantil, considera que esta última configura-se como espaço-tempo privilegiado de desenvolvimento da criança pequena e, sem dúvida nenhuma, pode ser um local onde a música seja apresentada rotineiramente de maneira adequada para favorecer o desenvolvimento das crianças.
A música, presente em diversas situações da vida humana se manifesta também no cotidiano das crianças por meio das interações com a cultura dos adultos. Nessas interações as crianças constroem um repertório de modo a iniciar uma forma de comunicação por meio dos sons. Por meio de brincadeiras e manifestações espontâneas ou também pela intervenção do professor ou familiares e outras situações de convívio social, as crianças entram em contato com a música.
Na Educação Infantil muitas são as linguagens artísticas a serem exploradas e que contribuirão para o processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças. Assim, a Música se configura em uma dessas linguagens e a esse respeito o RCNEI considera que: “O domínio progressivo das diferentes linguagens que favorecem a expressão e comunicação de sentimentos, emoções e idéias das crianças, propiciam a interação com os outros e facilitam a mediação com a cultura e os conhecimentos construídos. Incide sobre aspectos essenciais do desenvolvimento e da aprendizagem e engloba instrumentos fundamentais para as crianças continuarem a aprender ao longo da vida” (RCNEI, 1998, p.46).
Desse modo, observa que o envolvimento das crianças com a música acontece desde tenra idade, sendo que esta já faz parte de sua vida desde o ventre materno. A Música faz presente nas mais variadas situações do cotidiano despertando na criança o desenvolvimento de aspectos cognitivos, lingüísticos, psicomotores e sócio-afetivos, ao mesmo tempo em que garante a aquisição de novos conhecimentos.
5. CONCLUSÃO
Por meio da Música a criança poderá estabelecer relações com o meio e com os outros indivíduos, compreender e relacionar-se com a cultura na qual está imersa ou até mesmo com outras culturas.
A Música pode contribuir para a aquisição de vocabulário, socialização, autonomia, aquisição de conceitos matemáticos. Brito (2001) argumenta que a Música contribui para a formação da personalidade da criança configurando-se como um importante meio de exercício da expressão, da reflexão, habilidades motoras, perceptivas, intelectuais e reflexivas, uma vez que ela pode contribuir para a formação de seres humanos mais harmoniosos e equilibrados.
De acordo com Rosa (1990), a presença da música na pré-escola pode ser observada em diversas atividades como recreações, canções, comemorações, interferindo, portanto, na formação geral da criança. A autora afirma que: “As atividades musicais contribuem para que o indivíduo aprenda a viver na sociedade, abrangendo aspectos comportamentais como disciplina, respeito, gentileza e polidez e aspectos didáticos, com a formação de hábitos específicos, tais como os relativos a datas comemorativas, a noção de higiene, a manifestações folclóricas e outros” (ROSA, 1990, p. 22).
O desafio está, portanto, em conhecer as formas pelas quais se estabelecem o ensino de música nas práticas pedagógico-musicais das professoras unidocentes da Educação Infantil, sistematizando dados capazes de sustentar a discussão sobre o ensino de música na área. Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi analisar como a música é compreendida e trabalhada por professor unidocentes no cotidiano de salas de aula de Educação Infantil.

6 REFERÊNCIAS
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. REFERÊNCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL. Brasíla: Secretaria de Ensino Fundamental. 1998. (3 vol.).
____________. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL: Arte – 1ª a 4ª séries. Brasília: SEF. 1997.
BRITO, Teca Alencar de. KOELLREUTTER EDUCADOR: O humano como objetivo da educação musical. São Paulo: Peirópolis, 2001.
CARRIJO, Menissa Cícera Fernandes de Oliveira Bessa. EDUCAÇÃO INFANTIL E POLÍTICAS PÚBLICAS NA CONTEMPORANEIDADE: avanço e limitações no discurso legal e na dinâmica educacional. Dissertação (Mestrado). Faculdade de Educação, Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2005.
DINIZ, Lélia Negrini. MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: uma survey com os professores da Rede Municipal de Ensino de Porto Alegre - RS. Dissertação (Mestrado). Instituto de Artes. Programa de Pós-Graduação em Música. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2005.
FERNANDES, Iveta Maria Borges Ávila. MÚSICA NA ESCOLA: desafios e perspectivas na formação contínua de educadores na rede pública. Disponível em:
http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/48/48134/tde-08122009-152940/ Acesso em: 24 Set. 2010.
FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. DE TRAMAS E FIOS: ensaio sobre música e educação. São Paulo: Editora UNESP, 2005.
KRAMER, Sônia (Org.) A POLÍTICA DO PRÉ-ESCOLAR NO BRASIL: a arte do disfarce. 7. Ed. São Paulo: Cortez, 2003, 140 p.
LOUREIRO, Alícia Maria Almeida. O ENSINO DA MÚSICA NO ENSINO FUNDAMENTAL. Campinas, SP: Papirus, 2003. 235p.
ROSA, Nereide Schilaro Santa. EDUCAÇÃO MUSICAL PARA A PRÉ – ESCOLA. Rio de Janeiro: Libador, 1990.
TIAGO, Roberta Alves. MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL: saberes e práticas docentes. Disponível em: http://www.bdtd.ufu.br/tde_busca/arquivo.php?codArquivo=1755 Acesso em: 25 Set. 2010
TORRES, Maria Cecília de A. Rodrigues. EDUCAÇÃO MUSICAL NO CURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIA – Univates (RS). Revista Expressão (Revista do Centreo de Artes e Letras), Santa Maria, v.1, n.2, p. 135-138, 1998.

domingo, 29 de maio de 2011

O Desenvolvimento Moral na Educação Infantil

                  Introdução
Pretendemos neste trabalho buscar algumas reflexões sobre a importância da ética e moralidade para a formação de uma pessoa, pensando em seu início de escolarização, quando ainda criança cursando o ensino infantil.
Vivemos em um mundo globalizado no qual é visível a falta de ética, portanto é necessário repensar a importância de se estudar a moral e a ética na sala de aula.
O desenvolvimento moral de uma pessoa inicia-se ainda em sua infância, o que justifica nossa pesquisa no ensino infantil, salientando como é imprescindível o papel do educador frente a seus alunos dessa faixa etária, buscando algumas breves considerações sobre ética e moral e fazendo um paralelo sobre essas questões e a educação de crianças ainda bem pequenas.
Buscamos com essa pesquisa contribuir para com educadores e todas as pessoas envolvidas e comprometidas com a educação infantil.
Assim acreditamos que a escola precisa ser um espaço onde haja a oportunidade da criança refletir através de um debate ético, para que possa sensibilizar-se e haver o início de sua formação moral.

Sociedade em crise de valores
O que são valores?
Discorreremos com base em teóricos que tratam do assunto, sobre o mundo que estamos vivendo com relação a valores.
Carvalho (1989) sintetiza o mundo atual acerca da crise moral "(...) sem amor, desoxigenante, terminal e incapaz de garantir sociabilidade mínima. Nesse cenário dilacerador é que explodem a violência generalizada, a importância social, o descalabro institucional, a reprodução ampliada da cultura do narcisismo que de um lado, aposta na desestruturação da sociabilidade e, de outro, investe no curto – circuito da auto-preservação desmesuradas)". Prefácio, apud Costa, 1989, p.9).
Acreditamos assim como Carvalho que nos dias atuais ocorre uma mudança de valores, priorizando o “eu” em detrimento do outro.
As pessoas buscam o interesse próprio esquecendo-se do outro.
Ainda nesse sentido, eis o que diz Costa (1988), a respeito dessa cultura narcísica; a qual afirma ter levado as pessoas do nosso país a cultuar o corpo e a sexualidade.
“Banido há muito tempo da cidade política, o cidadão viu-se, agora despido do direito à justiça...”
Sem o exercício perde-se o critério que permite o “calculo equivalência” na distribuição dos bens. Diante das desigualdades, que são realidade de fato, a justiça e a lei aparecem como valor. Por conseguinte à perda do direito de participar, soma-se agora a perda do direito de partilhar.
Mais que isso, na ausência da justiça, e não tendo mais como reivindicar o que é de “meu direito” ou de “minha prioridade.” (p.24)

A Educação Moral no Ensino Infantil
A escola tradicional reforçava o egocentrismo na criança, pois era pautada numa relação unilateral, a criança recebia do adulto os conceitos de sua moralidade, a conduta do professor era autoritária, o aluno deveria obedecê-la.
Ela foi drasticamente criticada por Piaget, para ele esse modelo de ensino barrava a construção da consciência moral infantil.
Assim a criança apenas aprenderia a reproduzir o modelo proposto pelo adulto educador, sem construir sua autonomia moral.

A educação infantil atual e seu importante papel.
Devido ao ingresso das mulheres ao mercado de trabalho, a educação infantil constitui um local destinado às crianças; para cuidá-las e alimentá-las.
Mas nos dias atuais o papel da escola infantil vai muito além desses “cuidados”. Essa instituição passou por inúmeras transformações desde os nomes que receberam bem como em suas visões e atitudes.
Segundo Drouet (1990) a pré-escola se constitui em um lugar que visa o desenvolvimento integral, biopsicos – social e emocional da criança.
Kramer (2000) cita a pré-escola como uma instituição voltada ao desenvolvimento infantil, a qual valoriza e amplia os conhecimentos da criança, a fim de torná-la autônoma, critica, criativa, responsável e colaborativa.
O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (R.C.N.E. / 98), coloca que há a necessidade de as escolas de ensino infantil criem condições para que as crianças se desenvolvam tanto fisicamente, afetivamente cognitivamente e eticamente, preocupando-se com o desenvolvimento das relações interpessoais para serem inseridas na sociedade.
Segundo Figueiredo (2004), a escola precisa retratar em seu projeto pedagógico, estratégias que propiciem aos alunos vivenciar situações diversas no sentido de dialogar, tomar decisões e refletir sobre suas atitudes.
Para enfantizar o trabalho deve ser desenvolvido a fim de oportunizar a criança:
“Capacidade de construir as suas próprias regras e meios de ação, que sejam flexíveis e possam ser negociados com outras pessoas sejam adultos ou crianças.” (Figueiredo, 2004, p.9)
Ainda neste sentido o projeto pedagógico da escola infantil tem o papel de nortear as ações do professor com orientações sugestivas objetivamente a construção da autonomia moral.
Para Vinha (1998), “as atitudes, a forma de ensinar, a maneira de agir dentro da sala de aula refletem a concepção de autonomia do educador e são determinantes no processo de construção da autonomia moral dos educandos.” (p.6)
O papel do professor nessa proposta
O ambiente escolar precisa constituir-se em um local onde sejam estabelecidas regras democráticas, através da cooperação e respeito, mútuo. O educador tem um importante papel para que isto seja concretizado de fato.
Se o educador não tiver conhecimento suficiente sobre como é importante cultivar a autonomia moral ele irá agir de forma autoritária e coercitiva.
E dessa forma não haverá eficácia na construção de uma consciência moral autônoma.
Alguns educadores despreparados ainda se comportam de maneira a castigar, punir e proibir os alunos, assim como revelam Silva e Sperb (1999).
Para eles estes professores não são qualificados, e isto conta muito, o despreparo culmina em ações indiscriminadas.
Segundo Zibetti (1999), uma solução para este grave dilema é o de propor cursos de formação continuada, a esses professores.
O educador também precisa ter em mente que seu aluno é um ser único, possui suas qualidades e também dificuldades. O que não pode ocorrer é a rotulação do aluno, pois esta seria prejudicial para toda sua vida escolar e social.
O educador precisa se atentar para o fato de que sua forma de agir tem um peso muito grande, podendo ser e, prol do desenvolvimento da consciência moral como contribuir para que a escola seja um lugar de exclusão social.
Ele precisa ter autoridade dar exemplo, mas não ser autoritário.
Uma criança precisa de limites e muitos pais e educadores não os impõem pois temem traumatizar a criança.
La Zaille (2002) coloca que existe uma dimensão para os limites, a criança necessita deles para adquirirem as regras e saber seus deveres, eles não podem ser em excesso mas precisam existir.
O educador será observado pela criança, será um modelo. Ele precisa conhecer cada aluno em suas peculiaridades para perceber como melhor lidar com ele.
Não deverá como já citado atribuir rótulos comportamentais e estar atento as diferenças individuais na convivência social.
Se os educadores seguirem as colocações retratadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais, eles terão um olhar diferente para seus alunos, perceberão que são seres humanos dotados de brilhantes potencialidades, cada um com seu estilo, mas todos dignos de participar e receber estímulos rumo ao conhecimento.
Nesses contexto o papel do educador é o de proporcionar ao aluno o desenvolvimento de uma consciência moral e não impedi-lo.
Para Dias e Vasconcellos (1999): “entender a autonomia como um dos mais importantes objetivos educacionais da educação infantil é também perceber que este é um objetivo a ser construído coletivamente por professores familiares e crianças.” (p.10)


Considerações Finais
Há muito para se fazer em prol do desenvolvimento moral, estudá-lo e maiormente exercitá-lo.
É fundamental trabalhar com o desenvolvimento moral com as crianças já na educação infantil, pois elas serão os adultos de amanhã e de acordo com a base desenvolvida “hoje”, conseqüentemente na vida adulta irão escolher como agir e pensar, levando-se em conta a moral.
A Educação Infantil é uma oportunidade excelente para investir com qualidade na educação moral, pois estas crianças irão influenciar a sociedade e se forem bem alicerçadas certamente farão a diferença rumo a uma sociedade mais ética.


Referências Bibliográficas
 Dias, A. & Vasconcellos, V. (1999). Concepção de autonomia dos educadores infantis. Temas em Psicologia da S.B.P, 1, (6), 9 - 21
Drouet (1990). Fundamentos da Educação Pré-escolar: São Paulo: Ática
Figueiredo, T. (2004). Organizando o dia escolar: aspectos básicos a considerar na construção da autonomia na criança. Revista do Professor, 78, 8 - 13
Kramer, S. (2000). Com a pré-escola nas mãos: uma alternativa escolar para a educação infantil. São Paulo: Ática.
La Taille, Y (2005). O despertar do senso moral. Pátio Educação Infantil, 7, 6-9.
Silva, P. & Sperb, T. (1999). A pré-escola e a construção da autonomia Temas de Psicologia 1, (7), 65-77.
Piaget, J. (1994). O Juízo moral na criança. São Paulo.
Summus. (Original publicado em 1932).
Vinha, T. (1998). Sala de aula: espaço de construção da autonomia moral. Dois pontos: teoria e prática, 36, (4), 6-11
Zibetti, M. (1999). Analisando a Prática Pedagógica: uma experiência de formação de professores na educação infantil. Dissertação de Mestrado Universidade de São Paulo.