Educando Musicalmente

Educando Musicalmente

sábado, 30 de abril de 2011

Bom dia todas as cores - Ruth Rocha - História pra Cantar e Contar

Reflexões acerca do Brincar e do Fazer Musical na Infância



No começo de tudo, no ambiente familiar, a voz e a cantoria de minha mãe que gostava de música tradicional (cancioneiro infantil) e caipira (Tião Carreiro, Tonico e Tinoco e outros), a voz de meu pai e a música de sua gaita (músicas de diversos gêneros, principalmente as jazzísticas, eruditas, instrumentais e populares brasileiras), a voz de minha avó paterna e as suas canções tradicionais italianas e de óperas, as vozes desconhecidas e as músicas dos radinhos de válvula e de pilha (ora no quintal ora na cozinha), as músicas dos discos de vinil (a vitrola da família, um enorme e pesado móvel na sala), o som do telefone de parede, alguns sons distantes de animais e da cidade.

E depois dos sons e das músicas, notei as pessoas e as coisas ao meu redor, a rotina do dia-a-dia de uma casa, as ações, os enfrentamentos, tudo dinâmico, vivo, amoroso e organizado.

Não havia televisão e o mundo era simplesmente assim: o mundo de dentro e de fora de casa, o mundo do adulto e o mundo da criança, o mundo dos trabalhos e o mundo dos brinquedos. Aos poucos, o mundo da rua, da cidade e dos estranhos foi-me ora permitido ora conquistado. E como no começo de tudo também não havia escola, até os cinco anos de idade o meu mundo era apenas brincar e aprender com os pais, os irmãos, os amigos da rua e outros adultos. No meu olhar de criança, não havia tristeza nem pobreza, e tudo era encantamento, prazer, alegria e afeto. Também não havia o julgamento, e a beleza era sempre presente mesmo quando ausente.
O brincar era espontâneo e praticamente acontecia todos os dias, geralmente após o café da manhã (dentro de casa, com os irmãos), após o almoço (na rua, com os amigos), e após o jantar (com os pais ou familiares). A brincadeira de rua, por exemplo, implicava numa forma de organização social e, consequentemente, numa aprendizagem social a partir das interações dos indivíduos.
E no princípio eram as escutas diversas, de cantos infantis, de contos de fadas, de causos e de lendas do país, de estórias e de músicas dos disquinhos de vinil, da imaginação, de livrinhos de cordel que minha mãe recitava de memória, de piadas e de brincos como os trava-línguas e as parlendas, da gaita de meu pai, dos cantos de pássaros e outros sons do cotidiano.

Através das escutas de contos de fadas, a fantasia aflorava e um mundo imaginário era tecido passo a passo, o meu mundo de sonhos, onde novas personagens se entrelaçavam, com novos
detalhes, uma brincadeira que me possibilitava fazer, desfazer e refazer coisas, pessoas, lugares, e ações. E assim, horas a fio, inventava e reiventava mundos invisíveis que desapareciam quando eu escutava a voz de minha mãe chamando para o banho. 
O ato de escutar uma estória infantil ou música de um disquinho de vinil, por exemplo, significava escutar, dramatizar, cantar, gesticular, improvisar sons, dançar, bater palmas, desenhar, tocar um instrumento, emocionar-se, entre outras ações, repetidas e incansáveis vezes até a memorização ou aprendizado, como num jogo, num brinquedo.

E quando a escuta era em grupo, a brincadeira estruturava-se de outras formas, por exemplo, um indivíduo do grupo mais desinibido propunha um gesto, mímica ou dramatização e os demais participantes prontamente o imitavam. A mesma brincadeira tornava-se mais complexa conforme a entrada de um indivíduo mais experiente no grupo que, geralmente, propunha as regras, o vocabulário específico, os momentos de cantar em grupo ou sozinho (o mais afinado, por ex.), que criava o texto e a música, que distribuía as personagens da estória conforme o tamanho da criança, da idade, da personalidade, ou da habilidade de cada um, e que efetivamente colaborava na estruturação da brincadeira e na organização social.
Os mais experientes eram chamados de mestres, e os menores eram os aprendizes, e havia respeito e acatamento das decisões. E as repetições eram sempre prazerosas, pois, todos sabiam que o sucesso da brincadeira residia no trabalho de cada um ou do grupo. A brincadeira e o grupo era uma coisa só.

O brincar é um fenômeno social vivo, dinâmico, lúdico, espontâneo, prazeroso, salutar, participativo, sempre criativo e reinventado. Através do brincar, o conhecimento do mundo e da própria cultura da infância são apresentados gradativamente à criança.




Na realidade, o brincar traz consigo o próprio brincar, a ludicidade, a alegria de estar num mundo especial, o mundo do ser brincante, o misterioso mundo dos brinquedos.
As brincadeiras de rua ou brinquedos eram inúmeros: amarelinha, roda, casinha, balança-caixão, pula-corda, pião, cabra-cega, pega-pega, bolinha de gude, esconde-esconde, estátua, brincos, trava-línguas, cantorias, pula-saco, pular com uma perna só, falar na língua do "e", pintar, desenhar, amassar barro ou argila, andar de costa, andar de olhos fechados, pique-salva, par ou ímpar, cavalinho de pau, boneca, soldadinho de chumbo, papagaio, loja, tocar tambor, boneca dorminhoca, marionete, teatrinho de fantoches, peteca, etc.; além dos jogos como o lança-dado, lança-pedrinhas, rouba-monte (baralho), as cinco marias, quebra-cabeça, queimada, dominó, jogo da velha, argola, jogo do taco, bafo, passa-anel, apostar corrida de bicicleta, dama, batalha naval, entre outros.


E um dos aspectos interessantes da organização do grupo é que ora se decide por brincar aos pares, ora por brincar em pequenos grupos de meninas e meninos (conforme o interesse e a complexidade), ora por brincar todos juntos. Todos partilham do brinquedo, os brincantes mais ativos ou os observadores.

Partindo desta análise inicial em relação ao brincar, a música ou o fazer musical apresentou-se em minha vida como uma brincadeira de rua ou um jogo de criança. Cantar e dançar era um só brinquedo.

Tocar um instrumento ou participar de um coral era mais uma forma de atividade lúdica do tempo de criança.

O fazer musical era um jogo com regras mais complexas, que exigia de mim novas capacidades, sensibilidades, destrezas, além de uma dedicação mais individualizada, porém, muito próxima das minhas brincadeiras de escutas e de criação de estórias.



Com base na teoria de Jean Piaget, o educador francês François Delalande relacionou os três tipos de jogos: sensório-motor (experimentação sonora e gestual), simbólico (capacidade de expressão e significação da linguagem musical/música), e com regras (organização e estrutura da linguagem musical/música) à evolução das diferentes culturas musicais; aproximando a linguagem da criança à linguagem musical de grandes compositores. A criança ou mesmo o bebê vivenciam os sons, experimentando-os de diferentes maneiras, criando e recriando-os como numa brincadeira ou jogo de regras mais ou menos complexas conforme a idade.

Educadores musicais como, por exemplo, Orff, Kodaly, Willems, Self, Paynther, Gainza, e Shafer propuserem recursos pedagógico-musicais com base nos jogos de exploração sonora, rítmico-corporal, melódica, polifônica, harmônica etc. para o ensino e a prática musical com crianças e jovens. A educadora musical Lilia Rosa desenvolve técnicas pedagógico-musicais ou metodológicas a partir do uso de jogos e brincadeiras de rua da cultura popular brasileira (folclore infantil) no processo de musicalização ou de aquisição da linguagem musical e, consequentemente, do próprio conhecimento musical. E deve "agregar de imediato o prazer, a alegria, a satisfação da criança em aprender Música (...) e este é o grande desafio, modernizar-se; ou seja, pesquisar e recriar técnicas pedagógicas que sustentem o verdadeiro interesse afetivo-cognitivo da criança" (Rosa, 1996) e; principalmente, em conformidade com as diversas realidades sócio-culturais de nosso país.

O fazer musical proporciona benefícios de ordens diversas: educacional, social, física, moral, intelectual, emocional, terapêutica e espiritual. Porém, para Marisa Fonterrada (2001), como no Brasil
pouco se discute acerca da filosofia da educação musical, é necessário "repensar os modos de implantação de seu ensino e de sua prática", além de maior discussão acerca do valor e do papel da música junto aos educadores e a sociedade em geral. Somente assim o fazer artístico não seria definitivamente preenchido, como tem acontecido em muitas escolas, por atividades lúdicas, de lazer e de
entretenimento.

Lilia Rosa é educadora musical, mestre em música pela UNICAMP e doutoranda em música pela Escola de Comunicação e Artes da USP.
Contato: musicaintempo@hotmail.com


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 

BARROS, Célia Silva G. Pontos da Psicologia do Desenvolvimento. São Paulo: Ática, 2002.
BRITO, Teca Alencar. Música na educação infantil. São Paulo: Peirópolis, 2003.
BROUGÈRE, G. Brinquedo e cultura. São Paulo: Cortez, 1997.
DELALANDE, F. La musique est um jeu d'enfant. Paris: Buchet-Chastel, 1984.
FONTERRADA, Marisa Trench de Oliveira. De tramas e fios: um ensaio sobre música e educação. Tese de Livre Docência, Curso de Pós-Graduação em Música, Instituto de Artes, Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita, SP.
PONTES, Fernando Augusto Ramos; MAGALHÃES, Celina Maria Colino A transmissão da cultura da brincadeira: algumas possibilidades de investigação. Psicologia: Reflexão e Crítica, 2003, vol.16, n. 1, ISSN 0102-7972.
ROSA, Lilia de Oliveira. Música brasileira para coros infantis (1960-2003): catálogo online com obras a cappella. Dissertação de Mestrado, Curso de Pós-Graduação em Música, Instituto de Artes, Universidade Estadual de Campinas, SP. 2005
__________________. Musicalização, para pré-escola e iniciação musical,
nível 1. 1ª.ed. São Paulo: Vitale, 1988.
__________________. Musicalização, a partir de 7 anos, nível 2. 1ª.ed.
São Paulo: Editora de Autor, 1996.
SELIG, Sylvie. Kangaroo. London: Jonathan C., 1980.

NOTAS 

5 Grupo de crianças de 3 a 7 anos de idade, com a presença do mestre José Paulo (criança de 12 anos), que tem a capacidade de criar e liderar bem acentuada. Foto do Arquivo de Lilia Rosa: CCSFA 2006.

7 Grupo de crianças e adolescentes brincando aos pares, em frente ao CCSFA. Foto do Arquivo de Lilia Rosa: CCSFA 2008.

11 Aluna Tamae, 5 anos de idade, notação contemporânea a partir do Jogo da Velha. Foto do Arquivo de Lilia Rosa: SP 2008. 


ROSA, Lilia de Oliveira.
Música:Jogo:Brincadeira:Criança [reflexões acerca do brincar e do fazer musical na infância]
Portal da Rede Cultura Infância: São Paulo: 13 mai 2008 
Disponível em:  http://www.liliarosa.com/

O PAPEL DA INCLUSÃO DIGITAL NO PROCESSO EDUCATIVO

 



As ações para a inclusão digital tem crescido, avançado e conquistado vitórias.
O uso do computador e da Internet em todas as idades mostra possibilidades incríveis de aprendizado e formação educativa.
A educação precisa inserir as tecnologias de comunicação e informação na sala de aula para que garantisse a qualidade do ensino na formação do indivíduo. Precisando assim, todos os envolvidos com a Educação investirem na formação para transformar a tecnologia em ferramenta educativa.
A tecnologia deve ser uma aliada do educador, precisando repensar na prática pedagógica, na transformação do modelo educacional e tornando o aprendizado mais atraente e estimulante ao aluno.
O educador precisa aprender “sozinho” a manter atualizado. A Internet cria novas formas de conhecimentos limitando poucos professores privilegiados, aprofundando ainda mais as diferenças sociais.
É necessário que os professores em sua maioria se atualizem dos computadores em seu dia-a-dia da sala de aula. Devendo ter a conscientização que na educação, a Internet traz um potencial inovador, que permite superar as paredes da sala de aula, com a troca de experiências entre alunos de outras cidades, estados e até países, e que este novo ambiente de aprendizagem, não reside apenas na escola, mas também nos lares e empresas, trazendo novos desafios para os professores, sendo Facilitadores e Motivadores.
Neste contexto, o educador precisa ser um mediador da tecnologia, utilizando-a como apoio para atividades de ensino e pesquisa, mas também como objeto de estudo e questionamento das influências das novas tecnologias na sociedade.
É preciso que as políticas públicas pensem em conjunto com gestores e professores das escolas, para que os projetos elaborados sejam de acordo com a realidade das mesmas, de seus alunos e professores. Tornando-se importante a formação de formadores e alunos para as novas tecnologias.
A educação tecnológica terá como meta a formação de pessoas que pensem na utilização da tecnologia em benefício do ser humano, não como tecnocratas, que são pessoas a serviço da tecnologia.
O profissional do futuro compete ser criativo, imaginativo e inovador.
A escola tem que preparar seus alunos para esta realidade, eles terão que aprender a aprender, a aprender a fazê-lo com autonomia. Ela deve transformar-se num espaço de inclusão, ajustando-se ao seu contexto real e respondendo aos desafios que se apresentam. Tal diversidade verifica-se especialmente em contextos como o da educação.
José Manuel Moran comenta sobre a importância do uso de novas tecnologias nas salas aula como alternativa, mas ressalta a importância de se discutir os conteúdos transmitidos nesses meios.
Segundo ele, "a escola precisa observar o que está acontecendo nos meios de comunicação e mostrá-lo na sala de aula, discutindo-o com os alunos, ajudando-os a que percebam os aspectos positivos e negativos das abordagens sobre cada assunto. Fazer re-leituras de alguns programas em cada área do conhecimento, partindo da visão que os alunos têm, e ajudá-los a avançar de forma suave, sem imposições nem maniqueísmos" (MORAN, 2002).
É necessário o aumento do número de projetos de inclusão digital, para oportunizar a relevância de se incluir cada vez mais pessoas num mundo cada vez mais dominado pelos meios de informação. Por meio da inclusão, as pessoas terão maiores oportunidades de se inserirem socialmente e economicamente, e participarem da sociedade em rede.
A escola precisa se reestruturar não só para se inserir no mercado de trabalho, mas para questionar as novas formas de produção e ter condições de propor alternativas à sociedade.
Promover a inclusão digital é criar caminhos para participar desse movimento, não se sujeitando às práticas que o condicionam a mero consumidor, seja de informações, seja de bens, seja de cultura.
O papel da educação é favorecer a “luta pela prevalência da colaboração e do compartilhamento sobre a competição e o aprisionamento do conhecimento” (BRANT,2008, p. 73), é um espaço de crítica e ressignificação de todos os processos sociais, a formar um cidadão com liberdade de conhecimento, de sujeitos e da sociedade.
Referência:
BONILHA, Maria Helena Silveira. INCLUSÃO DIGITAL NAS ESCOLAS. Disponível em:

BRANT, João. O LUGAR DA EDUCAÇÃO NO CONFRONTO ENTRE COLABORAÇÃO E COMPETIÇÃO. In.: PRETTO, Nelson De Luca; SILVEIRA, Sergio Amadeu (Orgs). Além da redes de colaboração: internet, diversidade cultural e tecnologias do poder. Salvador: EDUFBA, 2008. p. 69-74.
INCLUSÃO DIGITAL NA ESCOLA PÚBLICA: INTER-RELACIONANDO A COMUNICAÇÃO, A TECNOLOGIA E A EDUCAÇÃO. Disponível em:
MORAN, José Manuel. DESAFIOS DA TELEVISÃO E DO VÍDEO À ESCOLA. Disponível on-line em http://www.eca.usp.br/prof/moran (acessado em agosto 2004).
Silmara Alvarez Antônio