Educando Musicalmente

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domingo, 29 de maio de 2011

O Desenvolvimento Moral na Educação Infantil

                  Introdução
Pretendemos neste trabalho buscar algumas reflexões sobre a importância da ética e moralidade para a formação de uma pessoa, pensando em seu início de escolarização, quando ainda criança cursando o ensino infantil.
Vivemos em um mundo globalizado no qual é visível a falta de ética, portanto é necessário repensar a importância de se estudar a moral e a ética na sala de aula.
O desenvolvimento moral de uma pessoa inicia-se ainda em sua infância, o que justifica nossa pesquisa no ensino infantil, salientando como é imprescindível o papel do educador frente a seus alunos dessa faixa etária, buscando algumas breves considerações sobre ética e moral e fazendo um paralelo sobre essas questões e a educação de crianças ainda bem pequenas.
Buscamos com essa pesquisa contribuir para com educadores e todas as pessoas envolvidas e comprometidas com a educação infantil.
Assim acreditamos que a escola precisa ser um espaço onde haja a oportunidade da criança refletir através de um debate ético, para que possa sensibilizar-se e haver o início de sua formação moral.

Sociedade em crise de valores
O que são valores?
Discorreremos com base em teóricos que tratam do assunto, sobre o mundo que estamos vivendo com relação a valores.
Carvalho (1989) sintetiza o mundo atual acerca da crise moral "(...) sem amor, desoxigenante, terminal e incapaz de garantir sociabilidade mínima. Nesse cenário dilacerador é que explodem a violência generalizada, a importância social, o descalabro institucional, a reprodução ampliada da cultura do narcisismo que de um lado, aposta na desestruturação da sociabilidade e, de outro, investe no curto – circuito da auto-preservação desmesuradas)". Prefácio, apud Costa, 1989, p.9).
Acreditamos assim como Carvalho que nos dias atuais ocorre uma mudança de valores, priorizando o “eu” em detrimento do outro.
As pessoas buscam o interesse próprio esquecendo-se do outro.
Ainda nesse sentido, eis o que diz Costa (1988), a respeito dessa cultura narcísica; a qual afirma ter levado as pessoas do nosso país a cultuar o corpo e a sexualidade.
“Banido há muito tempo da cidade política, o cidadão viu-se, agora despido do direito à justiça...”
Sem o exercício perde-se o critério que permite o “calculo equivalência” na distribuição dos bens. Diante das desigualdades, que são realidade de fato, a justiça e a lei aparecem como valor. Por conseguinte à perda do direito de participar, soma-se agora a perda do direito de partilhar.
Mais que isso, na ausência da justiça, e não tendo mais como reivindicar o que é de “meu direito” ou de “minha prioridade.” (p.24)

A Educação Moral no Ensino Infantil
A escola tradicional reforçava o egocentrismo na criança, pois era pautada numa relação unilateral, a criança recebia do adulto os conceitos de sua moralidade, a conduta do professor era autoritária, o aluno deveria obedecê-la.
Ela foi drasticamente criticada por Piaget, para ele esse modelo de ensino barrava a construção da consciência moral infantil.
Assim a criança apenas aprenderia a reproduzir o modelo proposto pelo adulto educador, sem construir sua autonomia moral.

A educação infantil atual e seu importante papel.
Devido ao ingresso das mulheres ao mercado de trabalho, a educação infantil constitui um local destinado às crianças; para cuidá-las e alimentá-las.
Mas nos dias atuais o papel da escola infantil vai muito além desses “cuidados”. Essa instituição passou por inúmeras transformações desde os nomes que receberam bem como em suas visões e atitudes.
Segundo Drouet (1990) a pré-escola se constitui em um lugar que visa o desenvolvimento integral, biopsicos – social e emocional da criança.
Kramer (2000) cita a pré-escola como uma instituição voltada ao desenvolvimento infantil, a qual valoriza e amplia os conhecimentos da criança, a fim de torná-la autônoma, critica, criativa, responsável e colaborativa.
O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (R.C.N.E. / 98), coloca que há a necessidade de as escolas de ensino infantil criem condições para que as crianças se desenvolvam tanto fisicamente, afetivamente cognitivamente e eticamente, preocupando-se com o desenvolvimento das relações interpessoais para serem inseridas na sociedade.
Segundo Figueiredo (2004), a escola precisa retratar em seu projeto pedagógico, estratégias que propiciem aos alunos vivenciar situações diversas no sentido de dialogar, tomar decisões e refletir sobre suas atitudes.
Para enfantizar o trabalho deve ser desenvolvido a fim de oportunizar a criança:
“Capacidade de construir as suas próprias regras e meios de ação, que sejam flexíveis e possam ser negociados com outras pessoas sejam adultos ou crianças.” (Figueiredo, 2004, p.9)
Ainda neste sentido o projeto pedagógico da escola infantil tem o papel de nortear as ações do professor com orientações sugestivas objetivamente a construção da autonomia moral.
Para Vinha (1998), “as atitudes, a forma de ensinar, a maneira de agir dentro da sala de aula refletem a concepção de autonomia do educador e são determinantes no processo de construção da autonomia moral dos educandos.” (p.6)
O papel do professor nessa proposta
O ambiente escolar precisa constituir-se em um local onde sejam estabelecidas regras democráticas, através da cooperação e respeito, mútuo. O educador tem um importante papel para que isto seja concretizado de fato.
Se o educador não tiver conhecimento suficiente sobre como é importante cultivar a autonomia moral ele irá agir de forma autoritária e coercitiva.
E dessa forma não haverá eficácia na construção de uma consciência moral autônoma.
Alguns educadores despreparados ainda se comportam de maneira a castigar, punir e proibir os alunos, assim como revelam Silva e Sperb (1999).
Para eles estes professores não são qualificados, e isto conta muito, o despreparo culmina em ações indiscriminadas.
Segundo Zibetti (1999), uma solução para este grave dilema é o de propor cursos de formação continuada, a esses professores.
O educador também precisa ter em mente que seu aluno é um ser único, possui suas qualidades e também dificuldades. O que não pode ocorrer é a rotulação do aluno, pois esta seria prejudicial para toda sua vida escolar e social.
O educador precisa se atentar para o fato de que sua forma de agir tem um peso muito grande, podendo ser e, prol do desenvolvimento da consciência moral como contribuir para que a escola seja um lugar de exclusão social.
Ele precisa ter autoridade dar exemplo, mas não ser autoritário.
Uma criança precisa de limites e muitos pais e educadores não os impõem pois temem traumatizar a criança.
La Zaille (2002) coloca que existe uma dimensão para os limites, a criança necessita deles para adquirirem as regras e saber seus deveres, eles não podem ser em excesso mas precisam existir.
O educador será observado pela criança, será um modelo. Ele precisa conhecer cada aluno em suas peculiaridades para perceber como melhor lidar com ele.
Não deverá como já citado atribuir rótulos comportamentais e estar atento as diferenças individuais na convivência social.
Se os educadores seguirem as colocações retratadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais, eles terão um olhar diferente para seus alunos, perceberão que são seres humanos dotados de brilhantes potencialidades, cada um com seu estilo, mas todos dignos de participar e receber estímulos rumo ao conhecimento.
Nesses contexto o papel do educador é o de proporcionar ao aluno o desenvolvimento de uma consciência moral e não impedi-lo.
Para Dias e Vasconcellos (1999): “entender a autonomia como um dos mais importantes objetivos educacionais da educação infantil é também perceber que este é um objetivo a ser construído coletivamente por professores familiares e crianças.” (p.10)


Considerações Finais
Há muito para se fazer em prol do desenvolvimento moral, estudá-lo e maiormente exercitá-lo.
É fundamental trabalhar com o desenvolvimento moral com as crianças já na educação infantil, pois elas serão os adultos de amanhã e de acordo com a base desenvolvida “hoje”, conseqüentemente na vida adulta irão escolher como agir e pensar, levando-se em conta a moral.
A Educação Infantil é uma oportunidade excelente para investir com qualidade na educação moral, pois estas crianças irão influenciar a sociedade e se forem bem alicerçadas certamente farão a diferença rumo a uma sociedade mais ética.


Referências Bibliográficas
 Dias, A. & Vasconcellos, V. (1999). Concepção de autonomia dos educadores infantis. Temas em Psicologia da S.B.P, 1, (6), 9 - 21
Drouet (1990). Fundamentos da Educação Pré-escolar: São Paulo: Ática
Figueiredo, T. (2004). Organizando o dia escolar: aspectos básicos a considerar na construção da autonomia na criança. Revista do Professor, 78, 8 - 13
Kramer, S. (2000). Com a pré-escola nas mãos: uma alternativa escolar para a educação infantil. São Paulo: Ática.
La Taille, Y (2005). O despertar do senso moral. Pátio Educação Infantil, 7, 6-9.
Silva, P. & Sperb, T. (1999). A pré-escola e a construção da autonomia Temas de Psicologia 1, (7), 65-77.
Piaget, J. (1994). O Juízo moral na criança. São Paulo.
Summus. (Original publicado em 1932).
Vinha, T. (1998). Sala de aula: espaço de construção da autonomia moral. Dois pontos: teoria e prática, 36, (4), 6-11
Zibetti, M. (1999). Analisando a Prática Pedagógica: uma experiência de formação de professores na educação infantil. Dissertação de Mestrado Universidade de São Paulo.

Um comentário:

  1. Muito bom este artigo publicado! Me ajudou muito na realização da minha formação continuada que feita a distância.
    Parabéns!
    O blog é ótimo!

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